24/07/2009
23/07/2009
Olhar feminino sobre as mulheres do Sahara Ocidental
O MDM convida-as/os a participarem num debate e inauguração da exposição de fotografia "Olhar feminino sobre as mulheres do Sahara Ocidental", em Faro, no dia 6 de Agosto.
Quem estiver/for a banhos ao Algarve, não deixe de passar pela Galeria do Pátio de Letras, em Faro, de 6 a 31 de Agosto. As fotos são das nossas "caravanistas" Helena Costa e Inês Seixas.
Natacha Amaro
21/07/2009
Porque teimas nesta dor
A fadista internacional Sílvia Pinto, ouvida nas melhores salas do mundo e até por Presidentes da República!, actuou em exclusivo para o grupo sarauí no dia 19 de Julho em Arraiolos.
Aqui está um dos lindos momentos do concílio sarauí em terras alentejanas:
"Porque teimas nesta dor" by Sílvia Tira-picos Pinto. O senhor do lado esquerdo é o pai Pinto. O guitarrista do lado direito não fiquei com o nome mas, à semelhança do pai da Sílvia, brindou-nos com uns fados maravilhosos. Ficámos a saber a quem é que a nossa Sílvia sai...
Divirtam-se!
Natacha Amaro
20/07/2009
Sahara em Arraiolos
Mais um encontro dos sarauís portugueses!
Desta vez em Arraiolos, a convite da Sílvia, vimos fotos, contámos histórias, vimos filmes, matámos saudades.
Claro que a famosa gastronomia alentejana não podia faltar: queijinho, azeitonas, salada de orelha, sopa de tomate, abanicos com migas verdes, sericaia... Então, já estão arrependidos de não terem aberto um espacinho na vossa agenda?
Foi bom, foi muito bom, mesmo. Não só pelo cenário (Arraiolos está mais linda que nunca!), pelo calor de facto mas ainda mais pelo calor humano. A Sílvia proporcionou-nos um domingo memorável, tão perto da hospitalidade sarauí que todos conhecemos.
A foto acima é uma "panorâmica" de alguns convivas, roubada à Sílvia. Eu tenho um vídeo maravilhoso mas amanhã mostro (suspense!).
Felicidades para os que foram ao Sahara e também para os que não foram (esta é mesmo só para quem esteve no almoço...).
Beijos grandes e shukran, Sílvia.
Natacha Amaro
14/07/2009
13-07-2009 Reportagem
A centenas de quilómetros de qualquer tipo de civilização, dois exércitos aguardam pelo recomeço de uma guerra há muito silenciada. De um lado, estão estacionados 100 mil militares marroquinos fortemente armados, protegidos por minas terrestres, arame farpado e um colossal muro de 2500 quilómetros que divide o território do Sahara Ocidental de Norte a Sul. Do outro lado, cerca de 20 mil guerrilheiros Saharaui, munidos unicamente de material rudimentar usado por outras tropas em outras guerras, vivem na esperança de poder voltar a combater em nome da independência de um povo há muito esquecido pelo mundo ocidental.O repórter da A.23, Paulo Nunes dos Santos, foi visitar estes territórios, onde teve a oportunidade de documentar a vida de milhares de pessoas que, devido à invasão levada a cabo por Marrocos há 34 anos atrás, se viram forçadas a abandonar o seu país em busca de uma vida mais segura num dos locais mais inóspitos do planeta.
Texto e fotografias de Paulo Nunes dos Santos.
O CONFLITO QUE O MUNDO ESQUECEU
São sete da manha em Rabouni - um campo de refugiados no deserto Hamada a sudoeste da Argélia – quando, juntamente com Malainin, Ahmed e Hamdi começo a viagem que me levará ao encontro dos guerrilheiros Saharaui da Frente Polisário. Feita uma última paragem, para reabastecer de água e comida para os próximos dias, seguimos então em direcção aos territórios liberados. Três horas depois, chego à fronteira entre a Argélia e o Sahara Ocidental. Ultrapassadas todas as formalidades, seguimos em direcção ao território que, apesar de regularmente monitorizado pelas Nações Unidas, continua a ser considerado zona de conflito.
Sem mapas ou qualquer tipo de instrumento de navegação, a viagem prossegue através de uma paisagem inóspita onde despojos de guerra e minas terrestres são uma presença constante. Ahmed conta-me que atravessou este território muitas vezes. “Conheço-o como a palma da minha mão”, afirma. Quando o conflito contra a ocupação marroquina começou há 34 anos atrás, Ahmed juntou-se à guerrilha. A sua função era transportar tropas e equipamento através do deserto. Fez esta travessia vezes sem conta. Hoje em dia, sem qualquer tipo de referência aparente, sabe por onde é seguro deslocar-se.
Chegados a Tifariti, uma pequena vila parcialmente destruída pela guerra, sou levado para uma casa situada no ponto mais alto da localidade, onde irei pernoitar durante os próximos dias. Malainin explica-me que “este é o quartel de observação da Frente Polisário em Tifariti”, onde vivem cerca de 10 homens que têm como função monitorizar os possíveis movimentos ofensivos das tropas marroquinas estacionadas a menos de 30 quilómetros desta localidade.
“Nesta zona houve muitos combates. Quando Marrocos invadiu o nosso país, milhares de pessoas fugiram das cidades costeiras para se refugiarem aqui em Tifariti”, explica Malainin. “Mas a forca aérea de Marrocos veio e bombardeou a população em fuga, usando bombas de fósforo branco e de fragmentação. Muita gente morreu e a vila ficou praticamente toda destruída”, acrescenta.Junto à entrada do quartel são ainda visíveis destroços das poucas habitações então existentes, bem como alguns tanques de guerra das forcas militares Marroquinas. “A maioria dos Saharaui não sabia conduzir, por isso quando capturávamos os tanques ou jipes Marroquinos, destruíamo-los”, conta Malainin.É de manha cedo quando iniciamos a visita a diversos acampamentos militares espalhados por toda a região.
Após uma hora de viagem, fazemos a primeira paragem no quartel general de Tifariti, onde tenho a oportunidade de conhecer e entrevistar o comandante do segundo batalhão das guerrilhas Saharaui, Aisa Sidahmed. Acompanhado por meia dúzia de seguranças, sou levado para o edifício central do acampamento onde me é servido o tradicional chá de menta. O comandante Aisa, um veterano com cerca de 70 anos de idade, senta-se junto à única mesa em toda a sala e de imediato mostra-se disponível para me contar a sua história e dar alguma informação sobre a actividade militar na região. À semelhança de centenas de outros homens, Aisa juntou-se à guerrilha há 35 anos atrás, um pouco antes de a Espanha abandonar a colonia à mercê de Marrocos e da Mauritânia. “Durante todos estes anos vi muitos companheiros morrer, mas isso só me deu ainda mais forca para continuar a lutar pela nossa independência”, explica o comandante.
Conta-me ainda que os comandantes militares se arrependem de ter assinado um cessar-fogo. “Em 1988, a maioria dos militares estava contra o cessar-fogo, porque na altura estávamos a conseguir liberar partes do território. Mas do ponto de vista político vimo-nos forçados a aceitar porque na verdade somos contra a guerra e a violência. Apenas lutamos para nos defender”. Acrescenta ainda que, na altura “acreditámos no plano de paz apresentado pela ONU, mas 17 anos passaram e nada mudou. A única mudança foi a de Marrocos ter tido a oportunidade de restabelecer as forcas militares e reforçar o muro que divide o nosso território”.
Questionado sobre qual seria então a solução para este conflito, Aisa afirma que “o governo de Marrocos tem ao longo dos últimos 17 anos frustrado todas as vias diplomáticas, por isso acredito que neste momento a única solução é voltar à guerra. Estamos preparados para reiniciar a luta armada a qualquer momento. Temos veteranos experientes e muita gente nova pronta para combater”. Acrescenta ainda que muitos Saharauis a viver na Mauritânia, Mali e em vários países da Europa, “voltariam de imediato ao Sahara para se juntar à luta caso seja necessário”. Quando questionado sobre a possibilidade de estrangeiros integrarem o contingente militar da guerrilha, Aisa responde claramente que “aceitamos de bom grado ajuda politica e logística, mas nunca permitiremos a um não Saharaui que combata por nós. Isto é uma guerra do nosso povo contra o governo imperialista Marroquino”.
Terminada a entrevista e recebida a autorização para visitar mais dois acampamentos situados algures na zona montanhosa da região, seguimos em direcção ao sul. Uma hora mais tarde, chegamos então a um acampamento em nada parecido ao anterior. Aqui, a única construção visível é uma pequena casa feita de barro e palha que serve de alojamento para munições e para as kalashnikov (AK-47) - a famosa metralhadora tornada num símbolo para a resistência e guerrilhas em todo o mundo.Cerca de 25 guerrilheiros aguardam-nos com algum entusiasmo evidente, típico de alguém que não comunica com o mundo exterior há algum tempo. As idades destes homens variam drasticamente. Alguns aparentam ter mais de 60 anos de idade em contraste com outros que, de acordo com o capitão, têm 18 anos. “Aqui todos os homens são voluntários e todos são maiores de idade”, afirma.
Orgulhoso das tropas que comanda, o capitão faz questão de me mostrar o armamento que tem disponível. Os guerrilheiros mais jovens fazem então uma demonstração do uso dos 4 ou 5 jipes apetrechados com artilharia anti-aérea da era Soviética, seguido de uma visita guiada aos tanques de guerra que também são provenientes da ex-URSS e de uma lição em manuseamento das famosas AK-47. Terminada a “parada” militar”, sou convidado a visitar uma pequena caverna que é não mais do que a casa destes homens. As paredes interiores estão todas pintadas com mensagens de apoio e respeito pela Frente Polisario e pelo povo Saharaui. Num canto, um dos guerrilheiros prepara um chá e pede-me que me sente para podermos conversar. Explicam-me que têm vivido ali desde o início da guerra, porque são partes do deserto que as tropas marroquinas não conhecem muito bem. “As cavernas protegem-nos do sol, do frio e do inimigo”, acrescenta.
Pergunto se existe alguma diferença de atitude entre os veteranos e os mais novos, ao qual me respondem que “os voluntários mais novos são como nossos filhos, são treinados pelos veteranos. São como nós éramos quando a guerra começou, a única diferença é que esta nova geração está mais informada, têm mais educação”. “Mas são todos bons guerrilheiros”, acrescentam. Em tom de brincadeira, pergunto de que é feito um bom guerrilheiro? O capitão responde que “para se ser um bom guerrilheiro temos de nos mentalizar de que não vamos voltar, de que vamos morrer em combate.”
O sentimento geral que estes homens transmitem é de que estão conscientes da superioridade militar de Marrocos mas, no entanto, têm a convicção de que sairiam vencedores caso os combates sejam retomados, porque as razões pelas que lutam são superiores às do inimigo. Para os guerrilheiros Saharaui, esta guerra é pela liberdade e independência do seu povo, contra um governo invasor que força as suas tropas a lutarem somente em nome de uma ideologia imperialista. Todos os guerrilheiros com quem falei (à semelhança da população civil), afirmam não ter quaisquer sentimentos negativos pelo povo marroquino, mas mostram-se dispostos a lutar e sacrificar as suas vidas para que as gerações futuras possam viver livres e independentes na terra que por direito lhes pertence.
Fonte: http://www.a23online.com/portal/?p=3402
09/07/2009
A Frente Polisário Pede à ONU para evitar as prospecções de prelóleo no Sahara
Nações Unidas, 7 de julho de 2009 (EFE).
A Frente Polisario pediu hoje ao Conselho de Segurança da ONU que detenha as prospecções petroleiras que duas companhias irlandesas levarão a cabo no Sahara Occidental com a autorização de Marrocos. Ahmed Bujari, assegura que os permissos outorgados pelo Governo marroquino constituem uma exploração ilegal de recursos que pertencem ao povo saharaui e complicam a solução do conflicto pela soberania na ex colonia espanhola.
EFE/Arquivo
Numa carta dirigida orgão máximo das Nações Unidas, o representante da Polisario perante este organismo, Ahmed Bujari, assegura que os permissos outorgados pelo Governo marroquino constituem uma exploração ilegal de recursos.
"Para o seu interesse em conduzir esta longa disputa a uma resolução pacífica, o Conselho de Segurança deve instar para parar a pilhagem ilegal de recursos naturais, propriedade do povo do Sara Ocidental ", diz a carta enviada ao presidente em exercício da autoridade, o embaixador do Uganda, Ruhakana Rugunda. Bukhari diz que Marrocos não tem argumentos jurídicos para justificar a concessão de licenças de exploração e estudo de um território ocupado desde 1975 e sobre o qual a comunidade internacional não reconhece a soberania. Lembre-se que a Assembleia Geral da ONU sublinhou, em diversas decisões, o direito exclusivo do povo sarauí a usufruir dos recursos naturais do território. Também cita um parecer jurídico a partir de 2002 o Departamento de Assuntos Jurídicos da ONU afirma que "uma violação do direito internacional" a exploração e aproveitamento dos recursos naturais do Sara Ocidental contra "a vontade e bem-estar" do povo território. "As acções de Marrocos no Sahara Ocidental e à cumplicidade das entidades estrangeiras estão seriamente comprometer o processo político em curso para encontrar uma solução justa, duradoura e mutuamente aceitável", o representante da Polisário. O Serviço Nacional de Hidrocarbonetos e Minas (ONHYM) dos últimos 18 jun Marrocos anunciaram a assinatura de dois acordos para a exploração petrolífera irlandesa e estudo na área da bacia do Zag, também conhecida como Bacia de Tindouf.
Na sua página Internet, disse que a empresa Ilha de Petróleo e Gás a Zag Bacia têm potencial para ser uma fonte significativa de gás no noroeste da África, perto do mercado europeu. Representantes da Polisário e do Governo marroquino vão reunir informalmente no final de junho em Viena, sob os auspícios da ONU para tentar retomar o processo de paz suspensos, disse no passado mês de Julho o 2, o Presidente da República Democrática Árabe sarauita (Sadr) , Mohamed Abdelaziz.
A reunião na capital austríaca é o resultado dos esforços do novo enviado especial da ONU para o Sahara Ocidental, Christopher Ross, para voltar a sentar à mesa das negociações com os dois lados depois da interrupção do ano passado, as rondas palestras realizadas em Manhasset desde 2007 (E.U.).
Fonte: Poemário por um Sahara Livre
04/07/2009
03/07/2009
GUERRA
30/06/2009
Confirmação da sentença de 15 anos de prisão para Mohamed Yahya Hafed. Condenados outros 11 presos políticos saharauis
25 de Junho de 2009
1 .- INFORMAÇÃO:
A. - Tribunal Penal de Agadir (Marrocos) 24/06/2009
Julgamento Penal. (24/06/2009)
Confirmação da pena de prisão para YAHIA MOHAMED ELHAFED IAAZA
O julgamento efectuado pelo tribunal marroquino a 24 de junho de 2009, contra os defensores dos direitos humanos sarauis conhecidos internacionalmente pelo GRUPO MOHAMED YAHIA e o Grupo dos Três, acusado de envolvimento na morte de um polícia marroquino na cidade de Tanta, foi plenamente confirmada pela condenação de todo o grupo, sendo a pena mais elevada para YAHIA condenado a 15 anos de prisão.
As penas são:
GRUPO YAHIA MOHAMED
MOHAMED Yahya ELHAFED IAAZA, 43 anos, foi condenado a 15 anos de prisão
MAHMUD BERKAUI EL, 26 anos, foi condenado a 4 anos de prisão
SALMI MOHAMED, 34, foi condenado a 4 anos de prisão
NAJEM Bouba, 27, foi condenado a 4 anos de prisão
Mayara MOUJAHED, 33, foi condenado a 4 anos de prisão
Lahcen Lefka, com idades compreendidas entre os 28, foi condenado a 4 anos de prisão
Salam CHARAFI, 28, foi condenado a 4 anos de prisão
Bani Abdelghani, 30, foi condenado a 4 anos de prisão
Lefkas OMAR, 22, foi condenado a 1 ano de prisão
GRUPO DOS TRÊS
Estes três sarauís defensores dos direitos humanos foram condenados a 2 anos de prisão injustamente e no julgamento do recurso a pena foi agravada em dois anos, tal como estimado pela Procuradoria King, considerando que as condenações foram agravadas ainda o mais possível para estes jovens que se sentiam "separatistas";
Hassan Khaled, foi condenado a 4 anos de prisão
ALI BUAMOUD, foi condenado a 4 anos de prisão
ELMAHJUB AILLAL, foi condenado a 4 anos de prisão
Breve Resumo de Vista:
Ø 09:10 na manhã de quarta-feira, 24 jun 2009, no Tribunal de Apelação de Agadir, vários ensaios
Ø Defesa dos prisioneiros sarauís. Começou a ser chamado e identificado pelo Chefe de 10'10.
Ø No momento da acusação o advogado procurou acumular esta para um outro julgamento em 1 de julho contra os defensores dos direitos humanos prisioneiros sarauís Hassan Khaled, BUAMOUD Ali e ELMAHJOUB AILLAL condenados em primeira instância pelos mesmos factos, de dois anos na prisão.
Este pedido surge pela primeira vez e é totalmente desconhecido para a defesa dos acusados e presos sarauís, e para os próprios prisioneiros sarauís e suas famílias. O Procurador do Rei, expressou a sua satisfação plena e de acordo com este pedido e, o Tribunal aceitou a petição ou denúncia sem admitir qualquer réplica da Defesa, contráriamente ao acordado que era iniciar o tempo das reuniões do recurso contra o julgamento dos 12 defensores sarauis dos Direitos Humanos às 15:30 pm do mesmo dia de 24 de junho de 2009.
Ø 15:00 pm volto-se para a sede do Tribunal de Apelação de Agadir e encontrou-se uma forte presença policial, tanto nos arredores do tribunal e no seu interior e na sala, aproximadamente 8 policiais e vans muitos veículos militares e policiais cercaram a área toda.
Ø O Conselho de Administração considerou que, o novo Tribunal de Apelação de Agadir foi completamente preenchido com parentes de presos, ativistas e advogados. Todos os homens e mulheres Sahrauis tiveram de passar por apertado controlo policial, ser objecto de revisão por parte da polícia e tiveram de deixar os seus registos detidos pela polícia.
Ø Ás 15:40 h. entram na sala os 3 primeiros prisioneiros a cantar slogans para a liberdade do Saara Ocidental, Auto determinação e torcendo pela Frente Polisário representando a vitória com o sinal das mãos.
Ø Em seguida, entra na sala todo o grupo de YAHIA, 9 sarauita outros presos políticos, também a cantar slogans a favor da Autonomia no Sara Ocidental e do o povo saraui. Aquando da entrada de Yahia que exigiu a ajuda de dois dos prisioneiros.
Ø O presidente do Tribunal critica duramente a atitude dos presos e, depois, procedeu à identificação do arguido e, em seguida, o próprio presidente na condução do questionamento da acusação.
Ø Quanto às declarações dos prisioneiros salienta o enfatizar da dureza do presidente ao ir até eles e pedir-lhes continuamente e impedindo-os de expressar-se livremente, uma ingerência permanente sobre o piso, não permitindo que seus escritos fossem arquivados, o corte pela primeira vez com ameaças e confrontados.
Ø Todos os sarauís presos disseram que foram torturados pela polícia durante o seu cativeiro, para mostrar LHCEN Lefkas cigarro queimaduras em seus braços, a pedido do Procurador do Rei, que negavam a tortura e exigiu provas claras de um deles, e LHCEN ele revelou. Bouba NAJEM E Mahmoud El BERKAOUI denunciou novamente sendo estuprada na prisão, o advogado e nunca senti a necessidade de investigar as suas denúncias.
Ø A única prova de culpa é introduzida num relatório da polícia dias depois pela polícia na cidade de Laayoune Saariana ocupado, não pela polícia de Tan Tan, onde os acontecimentos alegadamente ocorrido.
Ø Vários dos arguidos afirmaram que encontraram na cena do crime, Tan Tan, tendo na sua posse documentação que credita não ficar a mesma aceite pelo Tribunal, ou julgamento nesta instância ou em recurso, Considerando que o Presidente do Tribunal de Justiça a pedido do Procurador do Rei ", que o relatório (BAP) é a única verdadeira polícia, que a polícia não mente jamais, e que a sua palavra não pode ser objecto de contradição, tendo em conta o julgamento "
Ø Os arguidos insistiram em que foram detidos vários dias após os alegado eventos acontecerem , a polícia passou a procurar diretamente em sua casa porque são conhecidos na cidade de Tanta por defender a auto-determinação do povo sarauí e a sua luta pela paz.
Ø defesa, Abdallah Chellouk, Aantar Elwafi, Hassan e Taha Benmar Abdelmonaim argumentou:
- Que o julgamento teve um carácter político, mencionando a presença de observadores internacionais na Câmara Advogados para verificar os abusos e a forma como a justiça actua contra os presos políticos sarauís
Argumentação da ausência de provas contra eles e da inconsistência de doze pessoas que são responsáveis pela morte por uma pedra de um polícia marroquino
- A afirmação de que este julgamento foi a condenação de doze membros de Associações de Defesa dos Direitos do Homem e defensores da auto-determinação do Sahara Ocidental.
- Reiterou as denúncias de tortura que sofreram e continuam a sofrer os presos políticos sarauís pela polícia marroquina, bem como as condições desumanas de detenção em que eles estão exigindo o reconhecimento do seu estatuto de prisioneiros de consciência e de a aplicar-se a respeitar o direito internacional
Ø O Procurador do rei (Ministério) revelou um aumento prisão para todos os prisioneiros por assassinar um agente da polícia no exercício das funções do seu gabinete durante uma manifestação.
Ø Após a intervenção do Procurador do Rei, são dados por concluídos os julgamentos, o Tribunal retirou a deliberar.
Ø No 22:45 am, no Tribunal voltou a reaparecer na sala de ler a sentença, na presença dos presos políticos sarauís, suas defesas, suas famílias, os observadores internacionais legais, e uma grande mobilização de policiais e militares armados.
Leu-se a frase confirmando todas as condenações, o povo saraui começou a reagir ao Tribunal alegando falta de jurisdição sobre o Saara e exigindo justiça, exigindo, num grito desesperado a acção da comunidade internacional e das Nações Unidas para a protecção e defesa dos seus legítimos direitos como cidadãos e como seres humanos.
No exterior do tribunal foi organizada pelos sarauis presentes (mais de 200) uma manifestação que durou várias horas.
Defesa advogados: BENEMANN HASSAN, CHALOUK ABDALAMI, Antar ELOUFAI, Abderramán TAHA
Estavam presentes no momento do julgamento, incluindo:
Parentes de presos políticos sarauís.
Representantes de associações e comissões sarauís: ASVDH, CODAPSO, CSPROM, CDSPPM, CODESA, ODS
Internacional de Juristas participaram como observadores: Sra. Gemma Arbesú Sancho (Procuradoria - Geral do Conselho da Advocacia Espanhola), D. Gustavo A. GARCÍA MARTEL (Procuradoria - Geral do Conselho da Ordem dos Advogados espanhol), Dona DERKAOUI MERI (francês jurista), Don ASFARI ENNAÂMA.
Fonte: poemario por un Sara Libre
Intervenção de Ahmed Boukhari perante o Comité Especial dos 24 (Nações Unidas) a 16 de Junho de 2009
Tlaxcala
27 de Junho de 2009
Delegado da Frente Polisário fala para a ONU
Sr. Presidente:
O Sara Ocidental continua sob a ocupação ilegal de Marrocos. Os esforços realizados até agora pelas Nações Unidas, com vista à conclusão do processo de descolonização do Território não têm alcançado o sucesso desejado, devido à actual recusa de Marrocos para o direito do povo sarauí à autodeterminação e independência.
Em 1990, quando Marrocos aceitou o plano de regularização aprovado pelo Conselho de Segurança prometeu cooperar com as Nações Unidas, com vista à realização de um referendo sobre a autodeterminação, que permitisse ao povo saharaui escolher entre a independência e a integração na potência ocupante . A tarefa foi atribuída à MINURSO que foi implantada no território em 6 de setembro de 1991, na sequência da entrada em vigor do cessar-fogo acordado por ambas as partes.
A aceitação de Marrocos conduziu a uma verdadeira esperança para uma solução justa e duradoura do conflito, especialmente após a retirada da Mauritânia desde o conflito no âmbito do acordo de paz mauritanas sauris em 1979. Marrocos em 1997, confirmou a aceitação para o enviado pessoal do Secretário-Geral, James Baker, quando os dois lados assinaram acordos em Houston, que o Conselho de Segurança também tinha aprovado.
No entanto, quando tudo estava pronto para uma efectiva implementação de tais acordos, Marrocos rompeu o compromisso, feito tal numa carta enviada em abril de 2004 ao Secretário-Geral, onde ele explicou que Marrocos não aceitará qualquer solução que inclua a opção de independência do Território.
Desde esse ano, Marrocos está a tentar impor à comunidade internacional, através de amigos influentes no seio do Conselho de Segurança, uma proposta de autonomia, cujo ponto de partida é a considerar de antemão que o Saara Ocidental é uma parte integrante do território marroquino .
Era evidente que, antes do surto de Marrocos, com o compromisso, a ausência ou impedimento de um longo processo de resolução pacífica acarretaria sérios riscos para a continuidade do cessar-fogo.
Em Junho de 2007, o Conselho de Segurança pediu às duas partes para que entablásemos negociações directas sem condições prévias, para alcançar uma solução dentro do parâmetro essencial. As negociações começaram em junho desse ano, em Manhasset, realizada a quarta rodada, em Abril de 2008. Sabe-se agora, Sr. Presidente, que não houve qualquer progresso. As razões para isso residem no fato de que Marrocos entrou com uma condição que era simplesmente inaceitável. Na verdade este país não queria negociar, mas sim impor sua assim chamada autonomia proposta como a única solução possível. Apresentado como algo para tomar ou rejeitar. Não quis discutir a proposta apresentada pelo Saara Ocidental, que fora registada pelo Conselho. Na nossa proposta dizendo que o povo sarauí deve ser capaz de exercer o seu direito inalienável à autodeterminação através de um referendo, que inclui todas as opções reconhecidas pela ONU, no âmbito das resoluções 1514 e 1541 da Assembleia Geral, que deve necessariamente incluir a opção da independência. Esta opção não é apenas algo inevitável, mas também uma opção que Marrocos tinha já aceite quando ele assinou o plano de regularização e os Acordos Houston. A nossa proposta também disse que, se a independência deveria ser uma opção que o povo sarauí poderia escolher no referendo, e que a F. Polisário estaría disposta a olhar para além do facto de Marrocos ter tomado esta atitude e dar a oportunidade de negociar a base de uma relação estratégica nos campos, economia, segurança, comércio, questões sociais.
A rejeição de Marrocos a aceitar este ponto de vista, não só com base nos critérios das resoluções da ONU já mencionado, mas também na lógica e de senso comum, impediu progressos nas negociações.
O Secretário-Geral nomeou um novo enviado pessoal, o Embaixador Christopher Ross, em Agosto de 2008. O Sr. Ross não assumiu oficialmente as suas funções até Janeiro de 2009 devido a rejeição inicial de Marrocos.
Em fevereiro deste ano, o Sr. Ross fez uma turnê que o levou primeiro para a região, que relata em Abril de 2009 no Relatório apresentado pelo Secretário-Geral ao Conselho de Segurança. O novo enviado pessoal da missão vem tentar reavivar as negociações de Manhasset, e propôs como uma fase preliminar a realização de reuniões informais entre os dois lados. Nós temos manifestado o nosso apoio para a realização destes encontros, mas não sabemos por que estas reuniões não tenham ocorrido ainda.
II
Entretanto, Sr. Presidente, a situação no terreno não tem razões para o optimismo.Marrocos mantém ocupação de forças estimado em 150 mil soldados. O território está dividido em duas partes por um vergonhoso muro protegido por essas forças e por minas antipessoais afectando 5 milhões de pessoas . Como potência ocupante, Marrocos intensifica a operação diária e marketing com a maior oferta de recursos naturais do país, principalmente fosfatos e peixes, enquanto tenta envolver empresas estrangeiras na exploração de petróleo e nas águas territoriais de nosso país.
Esta actividade é, em flagrante violação do direito internacional aplicável a um território sujeito a um processo de descolonização. A Comissão Especial tem alguma coisa há muito a dizer sobre esta actividade. A gravidade desta violação é mais do que evidente quando se considera que, tal como referido no parecer do seu dia Secretário Geral das Nações Unidas para Assuntos Jurídicos, Dr. Hans Corell, 29 de Janeiro de 2002, em Marrocos não é considerado poder soberano pela ONU ou poder administrativo do Território.Temos uma operação ilegal que é feito com a resolução 3437 da Assembleia Geral apelou país "ocupante".
A situação também apela para o optimismo, quando olhamos para a situação dos direitos humanos em áreas ocupadas por Marrocos. Tal como confirmado pelos relatórios do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, em Outubro de 2007, Human Rights Watch de Dezembro de 2008 e no relatório do Comité ad hoc do Parlamento Europeu de Fevereiro de 2009, Marrocos viola os direitos humanos no Saara Ocidental. Todos estes relatórios apresentados pelos diferentes organismos não relacionados a uma outra, acordam em sua avaliação, no entanto, considerar que a violação dos direitos humanos em Marrocos tem a sua origem no facto de ela não ter respeitado o direito à autodeterminação -- . Por outro lado, o acordo sobre a necessidade de a ONU, através da MINURSO, o papel tradicional que exercem todas as outras missões da ONU em relação à prática da observação e proteção dos direitos humanos enquanto o conflito não se chegar a um solução justa e duradoura. O Secretário Geral das Nações Unidas, em todos os seus relatórios ao Conselho desde Outubro de 2006, ter registado a sua preocupação com a situação dos direitos humanos no território.
Várias delegações de países não membros do Conselho de Segurança, julgado em 2008 e 2009, incluídas na resolução do Conselho de Segurança, que prorroga o mandato da MINURSO para cobrir a questão dos direitos humanos. Marrocos, com o apoio da França impediu esta nobre tentativa de ir além de uma menção à "dimensão humana" do conflito, o que infelizmente só vai para reforçar a percepção da existência de uma política de dois pesos e duas medidas que não beneficiam do Conselho de credibilidade.
III
Sr. Presidente,
Foram mais de quatro décadas desde a Assembleia Geral em Dezembro de 1960 que adoptou a Resolução 1514 (XV) em que as Nações Unidas assumiram a nobre responsabilidade de assegurar que todos os países e povos sob ocupação colonial para o exercício do direito inalienável à autodeterminação -- e independência. O facto de a questão do Sara Ocidental da descolonização ainda inscrito na ordem do dia desta comissão a tornar-se o símbolo vivo do fracasso das Nações Unidas, em plena e efectiva assunção dessa responsabilidade.
O povo sarauí foi colonizado pela Espanha a partir de 1884 a 1976.A Espanha, que tinha considerado o território como "uma província espanhola», aceitar, até ao final de 60 o direito do povo sarauí à autodeterminação e independência. Como tive ocasião de revelar as sessões do workshop realizado em Maio último, em St. Kits e Nevis, Marrocos havia reconhecido, desde 1969, repetida, explícita e solene perante esta Comissão e à Assembleia Geral o direito do povo sarauí à plena independência.
Os trabalhos realizados nesse sentido pela comissão, que culminou com o relatório da missão visitando expedidos para o território do Sara Ocidental, em maio de 1975, as várias resoluções da Assembleia Geral sobre o Sara Ocidental, bem como o parecer do Tribunal de Justiça de Haia out. 1975, rejeitando argumentos pela validade das reivindicações territoriais marroquinas em nosso país, este foi um sólido corpo jurídico e político que deveria ter mantido o processo de descolonização e orientá-la para a sua conclusão natural pela pacífica adesão do nosso país para o seu pleno independência.
Os membros da Comissão Especial recorda o que aconteceu depois.Espanha, a gestão de energia, em abdicar suas obrigações para com as Nações Unidas tinham chamado Mauritânia e de Marrocos para os dois países invadidos, ocupados e divididos nosso país. Este foi concluído em acordos de Madrid de 14 de novembro de 1975. O nosso povo foram, assim, obrigado a continuar a sua legítima luta pela independência nacional contra os colonos, desta vez vinda de dentro da África. Colonialismo europeu havia sido retirado, mas o que tinha substituído colonialismo em África. Não há precedentes na história da descolonização da África para esta terrível tragédia. No entanto, vários dirigentes Africano havia advertido contra esta ameaça para a segurança e independência do continente. Daí a importância dada ao princípio da inviolabilidade das fronteiras herdadas da colonização na fundação Carta da Organização da Unidade Africano. O Tribunal de Haia tinha celebrado, como eu disse anteriormente, antes da colonização espanhola, não houve empate entre a soberania territorial do Saara Ocidental e os seus dois novos colonos. Esse parecer, bem como a inclusão do princípio da inviolabilidade das fronteiras na Carta da OUA, fez o marroquino-mauritanas tentativa de anexar o nosso país era visto como um acto de consequências muito graves para a África.
Ele foi o Presidente de Moçambique, Samora Matchel, que disse que "colonialismo não tem cor". Já em 1960, devido às reivindicações territoriais por Marrocos contra a Mauritânia, o Presidente Senghor do Senegal disse, acertadamente, que algumas nações Africano tinha adquirido a doença desde o colonos europeus. Mais recentemente, o Presidente Mbeki da África do Sul disse que a África é uma vergonha para o facto de o povo saraui ainda não tenha sido capaz de desfrutar de seu direito à independência.
IV
Senhor Presidente,
Talvez alguém possa dizer que esta não é conhecida e deve ser lembrado, a fim de manter o sono consciências. Isto é, em última instância aceita a noção de que o direito à autodeterminação dos povos, no contexto da descolonização abalado a consciência de que alguns dizem, em privado e, por vezes, não tão privado, talvez depois da assinatura ou garantir a assinatura de um contrato aqui e ali, nas mãos de Marrocos, que este direito fundamental, o que tornou possível a configuração atual do mundo devem dar no caso do Sahara Ocidental com a noção do "politicamente correcto" que Marrocos propõe, ou seja, anexação pura do nosso país, escondidas em uma proposta de autonomia.
O povo sarauí, assistida por um firme crença na legitimidade do seu direito à liberdade e independência, a supremacia dos princípios e valores da Carta das Nações Unidas sobre o canto de sereia um cínico e perigoso conceito de realismo político não renunciar a plena realização deste direito. Acreditamos também que a grande maioria dos membros da ONU partilham esta opinião e partilho a opinião de que uma questão de descolonização tão claro como este, não pode haver exceção à regra que foi estabelecida pela Resolução 1514 e que deram vida a esta Comissão.
É verdade, Senhor, que o povo sarauí continuar a sofrer, e vai continuar a ver o seu desenvolvimento e progresso estão agora hipotecado pela ocupação anacrónico, injusto e injustificado. É o nosso sofrimento, mas também o seu fracasso como as Nações Unidas.
Esta comissão pode e deve, na nossa modesta opinião, para relançar o seu compromisso com a descolonização da África da última colónia em sua agenda. Foi historicamente muito corajoso para enfrentar a persistência da colonização espanhola do Saara Ocidental. Você não deve abrandar neste negrito, porque a descolonização do Sahara Ocidental não foi finalizado ainda.Espanha esquerda. Em seu lugar entrou Marrocos. A ONU não é considerado um poder soberano, nem poder administrativo, mas este país é considerado capaz de interferir, influenciar e até mesmo alterar as posições de princípio e as regras mínimas de procedimento do Comité, tal como aconteceu, Sr. Presidente, na recente seminário . O sarauita pessoas ainda não tinham exercido o seu direito à auto-determinação e, portanto, é da responsabilidade da Comissão continua cheia, como é a nossa plena confiança em Cristo e da comunidade internacional.
Muito obrigado
Nascido em Dakhla (Sara Ocidental), Ahmed Boukhari é saraui da Frente Polisário representante nas Nações Unidas.
Fonte: Tlaxcala
Viagem ao Saara Ocidental |
Quando estive no deserto |
AUTOR: Atenea ACEVEDO Traduzido por Cristina Santos |
A sonoridade da palavra Saara tem a suavidade esponjosa das dunas, a tirania do sol, o azul profundo de um céu salpicado de estrelas, a visão fantástica do infinito. Nela também cabem a guerra,o espólio, a precariedade, o desterro e a injustiça. A força irreprimível dum povo faz que há trinta e três anos dizer Saara também é dizer resistência, anseio, temperança. Chegar a Dakhla, um dos acampamentos de refugiados saarauís na Argélia cujo nome corresponde a uma das suas cidades sob a ocupação militar marroquina, é uma grande odisseia. É como se as peripécias se conjugassem para pôr à prova a determinação e a dureza da pele da viajante, apenas para recompensá-la com imagens e emoções irrepetíveis. As horas num avião charter, que mais parece uma camioneta, alugado por um grupo de conhecidos e a massagem cruel que me oferece o transporte todo-o-terreno desde Tindouf são o preço a pagar para ver o primeiro amanhecer no deserto. Os meus olhos deixam de espreitar e abrem-se como leques, embruxados perante o vigor do fogo que se levanta com o impulso de um deus absoluto. Não se fecharão por muito tempo, apenas para dormitar na jaima ou no gueton quando o corpo se nega a acompanhar a minha necessidade de recorrer e recordar tudo. Como uma ordem a realidade dos acampamentos vem ao meu encontro. A reflexão imediata evoca o que aprendi a entender como “comodidades” ou “vida moderna”, eufemismos para uma torneira, uma tomada eléctrica, uma rua alcatroada e uma porta cheia de trincos. Aqui, onde o tempo adoptou a forma do horizonte ilimitado, basta um instante para reconhecer esses objectos peculiares como veículos de esbanjamento e desperdício. Precisamos de pouco e queremos tudo, e não importa se no caminho atropelamos ou arrebatamos. O povo saarauí, imerso na brutalidade da ocupação de um lado do maior muro do mundo ou no rigor do exílio do outro, sabe que a sua sobrevivência depende do sentido de colectividade. Os dias e as noites em Dajla levam a uma reflexão mais detalhada sobre aquilo que no meu mundo se perdeu e que não é pouco: a noção de comunidade, a motivação para nos reconhecermos noutras humanidades, o ânimo de rebeldia, a celebração da vida por si mesma. Tal como as centenas de pessoas que estão de passagem, desfruto do ritual do chá, do abrigo de uma família, das bondades do turbante, da luz que pressagia o amanhecer, da sábia cadência dos dromedários. A tranquilidade de cada momento obsequia uma aprendizagem. Oiço atenta a saudação saarauí, um intercâmbio de perguntas sobre o bem-estar da família e do gado, sobre os caminhos percorridos e a desejada presença de água num terreno sem dono. Trata-se de algo mais do que uma tradição de errantes, aquele diálogo útil para traçar a própria rota e atenuar as probabilidades de perecer ou perder-se em caminhos avermelhados: ao preservar a saudação que distingue o seu espírito nómada o povo saarauí assinala a sua convicção na vitória e persegue a teia da sua identidade legendária. A imaginação reina no Saara, espaço ideal para a organização delirante de um festival internacional de cinema. Projectar filmes na imensidade de um mal chamado “nada” não só refresca os sentidos marcados por uma paciência que se esgota. Que melhor meio para se aproximar a outras realidades e apresentar a própria que a linguagem audiovisual, insígnia dos nossos tempos? Por isso o festival oferece seminários de documentário, fotografia, edição, som e rádio. Por isso está-se a trabalhar na construção da primeira escola de cinema e acaba de se inaugurar as transmissões da televisão saarauí. Tudo serve para fortalecer a trincheira da dignidade e defender o sorriso desta gente que não pede permissão para ser e empunhar a sua bandeira. É normal que a perspectiva se apure depois de viajar a um acampamento saarauí, um lugar onde o inepto pulso humano supera adversidades inimagináveis, uma paisagem singular num planeta onde o pensamento único eliminou todos os sinais de originalidade e as cidades e as pessoas são cada vez mais fastidiosamente parecidas. Talvez assim se explique o sorriso que nasce nos meus lábios quando falo do Saara e de um povo que tem os olhos postos no futuro, os pés enraizados na história e asas a crescer nos braços. Mas a minha fascinação não vale a ferida deles. Por muito que aqueles que chegam de longe precisem de um tratamento contra o consumismo e a superficialidade, por mais intensa que seja a experiência, ninguém deveria ter de viver a inventar maneiras de gritar ao mundo a sua tristeza e o seu direito à justiça. Junto a minha voz ao coro que exige liberdade para o Saara Ocidental JÁ. Fonte: Cuando estuve en el desierto |
29/06/2009
Uma luta invisível
Uma luta invisível
População do país africano sofre, há mais de três décadas, a opressão da ocupação promovida pelo reino de Marrocos, apoiado por potências estrangeiras
25/06/2009
Igor Ojeda
da Redação
Dos povos oprimidos, a população do Saara Ocidental talvez seja a mais esquecida do planeta. Poucos sabem que esse país do noroeste da África está ocupado desde 1882. Primeiro, pela Espanha. E, a partir de 1975, pelo Marrocos, que aproveitou a saída das tropas coloniais para impor seu domínio sobre o território saarauí, rico em fosfato, pesca e petróleo. Desde então, os saarauís, reunidos politicamente e militarmente na Frente Polisario, lutam contra as forças marroquinas – apoiadas atualmente pela França –, pela realização de um referendo sobre sua independência e, até, contra um muro de 2.500 quilômetros de extensão. Leia, a seguir, trechos da entrevista com Emiliano Gómez López, presidente da Associação Uruguaia de Amizade com a República Árabe Saarauí Democrática (RASD), que visitou por diversas vezes a nação africana.
Brasil de Fato – O que é a Frente Polisario?
Emiliano – O Saara Ocidental, era, até 1975, o Saara Espanhol. Aliás, era uma província da Espanha. Em 10 de maio de 1973, depois de um período de idas e vindas dos nacionalistas saarauís, criou-se a Frente Polisario (Frente de Libertação Popular de Saguía el Hamra e Río de Oro, as duas regiões geográficas do país). É uma frente que reúne as vontades políticas de todos os setores independentistas, que tinham abandonado a possibilidade de uma via pacífica de independência e optaram pela luta política revolucionária armada. A primeira ação militar da Frente Polisario foi em 20 de maio de 1973, data que marcou o nascimento do Exército Popular de Libertação, que hoje constitui as Forças Armadas da República. Essa organização político-militar independentista conseguiu, em dois anos e meio, tomar o controle de praticamente todo o território, estabelecer negociações políticas com o governo colonial, e chegar a um acordo de repartir o território. Tudo parecia estar encaminhado à independência, porque a ONU também a estava pedindo, desde 1963, 1964. Mas aconteceu aí uma desgraça: as mudanças políticas na Espanha, devido à morte de Franco [Francisco Franco, ditador entre 1936 e 1975]. Ele estava morrendo, a incerteza política na Espanha era muito grande, não se sabia o que ia acontecer. Muitos pensavam que poderia estourar de novo uma guerra civil, e isso foi aproveitado pelo rei de Marrocos, Hassan II [exerceu o cargo de 1961 a 1999], que montou aquela encenação da chamada Marcha Verde, quando 350 mil marroquinos armados do Corão, dos retratos do rei e das bandeiras norte-americanas, foram em massa, através do deserto, até a fronteira do Saara Espanhol para tomá-lo, para “recuperá-lo” para o reino. O governo franquista tinha assinado um acordo secreto com Marrocos e Mauritânia, para, em troca de alguns privilégios econômicos, transferir a colônia às mãos da monarquia marroquina e da presidência da Mauritânia. Foram os acordos secretos de Madrid, de 14 de novembro de 1975. Nesse momento, as tropas marroquinas já estavam invadindo militarmente o Saara, a Frente Polisario estava combatendo contra os novos ocupantes, e o exército espanhol ia entregando as posições em combate. Essa era a ordem. Que foi uma verdadeira vergonha para a Espanha.
O senhor disse que o Exército de Marrocos estava recuperando o Saara. Antes tinha o controle?
O Marrocos nunca teve nenhuma soberania sobre o Saara Ocidental. Secularmente, as tribos saarauís tinham uma forma de governo federal próprio. Tinham o chamado Conselho dos 40, que se reunia sempre que havia alguma ameaça estrangeira, para regular as relações entre as tribos. Eram os anciãos. Mas, invocando o suposto direito ancestral, o Marrocos convocou o Tribunal de Haia, para que este emitisse um parecer para ver se efetivamente o Marrocos tinha direitos. O Tribunal, depois de três meses, depois de investigar toda a documentação espanhola, argelina, marroquina, chegou à conclusão de que não havia nenhuma ligação de soberania entre o reino de Marrocos e o Saara Ocidental. Nesse mesmo dia, começou a invasão. A política do fato consumado. E desde então, estão lá.
E qual era o interesse do Marrocos em ocupar o Saara Ocidental? Por que ele queria esse território?
Há vários fatores. A monarquia, profundamente corrupta, tinha a oposição de setores nacionalistas progressistas das Forças Armadas marroquinas. Uma das razões para começar a invasão era jogar o exército lá para o meio do deserto. Quanto mais longe do palácio, melhor. Essa foi uma das razões internas. Outra razão era a de tomar o controle das jazidas de fosfato do Saara Ocidental, uma das maiores e mais ricas do mundo. Nem precisa abrir buraco, é só tirar uma camada de areia. As reservas eram calculadas em 10 bilhões de toneladas. Além disso, no mar territorial do Saara Ocidental tem um dos bancos de pesca mais ricos do mundo. Lá, todo ano pescam uns cinco, seis, oito mil navios. E todos eles pagam direitos para pescar aí. Quanto pagam? Não sei. Talvez 30, 40 mil dólares para poder trabalhar aí o ano inteiro, cada navio. Todo esse dinheiro, que recebia a Espanha, agora vai para os bolsos não do Marrocos, mas do rei do Marrocos.
Qual foi a característica da colonização espanhola? Foi igual ao do resto do continente, de exploração de recursos naturais?
Na realidade, desde que a Espanha começou a ocupação do Saara Ocidental, em 1882, nunca fez nada. Aproveitava a costa saarauí para ter bases para os barcos de pesca. Não tinha outra importância, até que descobriram a presença das jazidas de fosfato. Aí, o governo espanhol fez um investimento muito grande. Todo um complexo minerador que implicava extração, transporte e carregamento dos navios. Tudo aquilo começava a dar lucros para o governo da Espanha, porque era uma companhia do Estado espanhol, mas aí começou a invasão marroquina. As instalações foram construídas para extrair até 10 milhões de toneladas por ano. No primeiro ano, o governo espanhol exportou dois milhões, no segundo ano, cinco milhões, e no terceiro, acabou, porque começou a guerra. Portanto, quem está aproveitando agora é o Marrocos. Aproveitando as próprias instalações espanholas. Eles exploram os minérios e os direitos de pesca.
Exportam para quem?
Para muitos países. No Marrocos, também há jazidas. Só que, claro, quando você tem as principais jazidas do mundo, você se converte em monopolista, e pode impor preços no mercado internacional. Isso é o que está fazendo o Marrocos, pois a companhia que explora é do Estado. Na verdade, não é do Estado, é do rei. O rei é o principal acionista da companhia estatal. Estamos falando diretamente da riqueza do rei.
O senhor disse que os soldados que participaram da invasão marroquina vinham também com bandeira estadunidense.
Foi uma coisa muito esquisita. Quem autorizou o começo da operação, da Marcha Verde, foi Henry Kissinger [ex-secretário de Estado dos EUA]. Tudo isso foi feito em cumplicidade com o governo norte-americano.
Desde então a monarquia marroquina já era aliada dos EUA?
Sim. Os EUA têm interesses estratégicos no Marrocos. Porque é a zona de confluência da 6ª Frota, do Mediterrâneo, e da 2ª Frota, do Norte do Atlântico. Portanto, o Marrocos era uma peça importante no esquema de dominação geoestratégica dos EUA. O Marrocos de um lado, o Egito do outro, e a África do Sul lá no sul. Era o Triângulo das Bermudas.
Então a invasão do Saara Ocidental foi de interesse dos EUA.
Foi tudo cozinhado entre a monarquia marroquina, os EUA e a França. Naquele tempo, neste último, já estava o Valéry Giscard d'Estaing, de direita. A França tem também interesses muito fortes na região.
Quais são?
A França é a ex-potência colonial. Marrocos, Tunísia, Argélia, Mali, Senegal. No meio daquele oceano francófono, está o Saara Ocidental hispanófono. A França foi embora, politicamente, mas economicamente, ficou. O domínio continuou. Esses interesses neocoloniais amarravam os interesses da burguesia, do feudalismo marroquino, com os do imperialismo francês. E estava em jogo aquele prestígio da França. “Aqui mando eu”. Por isso que sempre foi o aliado principal do Marrocos. E é até agora. Além disso, havia os interesses econômicos.
Desde 1975, quando começou a invasão marroquina, como evoluiu a resistência saarauí?
A Espanha vai embora numa operação que culmina em 27 de fevereiro de 1976, dia em que sua bandeira é arriada pela última vez. Nesse mesmo dia, no interior do deserto, a Frente Polisario proclama a República Democrática Saarauí [RASD], para que não houvesse nenhum vácuo jurídico que pudesse ser aproveitado pelos novos ocupantes. Imediatamente, essa república jovem, recém-nascida, já é reconhecida por sete países da África. A primeira tarefa da nova república: salvar a vida da população civil, que estava ameaçada de genocídio pelas tropas marroquinas. Entraram matando, acabando com tudo. Bombardeios de napalm, de fósforo branco. Todos aqueles que puderam, fugiram para o interior do deserto, para os acampamentos da Frente Polisario, procurando proteção. E a aviação marroquina os bombardeava. Teve um acampamento desgraçadamente famoso em Um Draiga que foi bombardeado por três dias seguidos. Mataram 2.500 pessoas. Imagina quantos desapareceram. A verdade é que houve um perigo real de extermínio da população. Então a Frente Polisario fazia um combate ferrenho para impedir o avanço das tropas marroquinas. Ao mesmo tempo, evacuava a população civil rumo à Argélia. O presidente argelino, Houari Boumédiène [1965-1978], abriu a fronteira, e aí foi a salvação da população civil. Hoje, os acampamentos estão no mesmo lugar. É o ponto mais extremo do Deserto de Saara. No inverno, atinge a temperatura de quase 0ºC. No verão, ao meio-dia, 60ºC. Você percorre a região inteira de carro e encontra um arbusto, outro a cinco quilômetros, outro a dez quilômetros. Só isso! O resto é areia, pedra, areia, pedra. No meio do nada, eles montaram os acampamentos para sobreviver. Então, o Exército Saarauí, uma vez que culminou a etapa de resgate da população civil, passou a uma fase de ofensiva. E assim foi de 1976 a 1991. Quinze anos depois, a partir das negociações promovidas pelas Nações Unidas e a OUA [Organização da Unidade Africana], chegou-se a assinar o acordo de cessar-fogo. Na guerra, as Forças Armadas Saarauís não puderam expulsar os marroquinos. Mas estes tampouco puderam acabar com os saarauís. Quando as tropas da ONU entraram, tinha, do lado saarauí, 15 mil combatentes. Do lado marroquino, 165 mil homens, armados pelo melhor armamento da África do Sul, França, Espanha e EUA. Em 1980, o exército marroquino ficou quase encurralado pelos ataques do Exército Popular Saarauí. Aí, com a ajuda diplomática, política e financeira dos EUA, e de Israel, construíram os muros fortificados para evitar os ataques do Exército Popular Saarauí. Começaram a construir um muro em torno da região das jazidas. Depois fizeram outros. Hoje tem um muro que vai do norte até o sul, são mais de 2.500 quilômetros. Tem 150 mil soldados permanentemente deslocados ao longo do muro, que está precedido por campos minados, por campos de arames farpados. Eles têm sistemas de radares que detectam os movimentos de uma pessoa a 10 quilômetros de distância. A cada cinco quilômetros, há uma posição de infantaria. A cada dez quilômetros, uma posição de artilharia pesada. Detrás do muro, estão as bases dos blindados. E, por cima de tudo isso, há a aviação, continuamente patrulhando. Estima-se que isso está custando ao Estado de Marrocos, em média, 4 ou 5 milhões de dólares por dia.
Provavelmente, com a ajuda financeira dos EUA, França...
Logicamente. E mais: os saarauís falam “por que o Marrocos é subdesenvolvido?”. Precisamente porque o dinheiro que podiam empregar no seu desenvolvimento estão empregando em gastos militares. Então, aquela divisão do deserto pelo muro, paras os saarauís, foi um choque, o deserto parecia livre, mas, de repente... uma muralha. As negociações procurando um acordo político deram como resultado o cessar-fogo que entrou em vigor em setembro de 1991. Com uma condição fundamental: que, em poucos meses, fosse realizado um plebiscito para que a população saarauí pudesse manifestar sua vontade a respeito de seu futuro político, sem pressões de nenhum tipo, livremente, tudo isso controlado pelas Nações Unidas. Escolher entre ser livres, independentes, ou ser parte do reino de Marrocos. Acontece que desde então, o reino de Marrocos tem se dedicado a sabotar, a por empecilhos diversos, para impedir a realização do referendo. Hoje já falam: “referendo não, isso é nosso, não tem discussão. Poderemos dar no máximo, uma autonomia”. Como se fosse uma província autônoma, mas sob a soberania do Marrocos. Já nem aceitam o referendo. Os saarauís dizem que aquele acordo que propiciou o fim da guerra tem sido violentado, e que, portanto, a guerra pode voltar. Essa é a situação hoje.
Esse conflito se deu na época da Guerra Fria. Houve um apoio, para a Frente Polisario, por parte da União Soviética, de Cuba etc?
Da União Soviética nunca. De Cuba sim. Desde o início da proclamação da República, Cuba apoiou de uma forma só: admitindo, no seu território, estudantes saarauís. Hoje, já passaram, por Cuba, milhares de saarauís. São médicos, engenheiros. São chamados de “cubaarauís”.
Por que o senhor acha que a União Soviética não interviu?
Na minha opinião, porque tinha um bom comércio com o Marrocos. Eram pragmáticos. Nunca deram nada, nem um pedaço de pão. Nem sequer o reconhecimento político. Os únicos países da Europa que reconheceram politicamente e diplomaticamente a República Saarauí foram a Iugoslávia, que não existe mais, e a Albânia, que mudou totalmente. Só. Mas do resto do bloco socialista europeu, nenhum deles. A ajuda militar veio da Argélia e, fundamentalmente, depois, havia os armamentos que eram pegos dos marroquinos. Nos acampamentos, há um museu militar, uma pequena mostra do que os saarauís capturaram. Tanques sul-africanos, norte-americanos, canhões auto-propulsados franceses, caminhões franco-germanos, metralhadoras, armamentos ligeiros e morteiros espanhóis.
Nesses acordos de 1991, além da realização do referendo, quais eram as bases dele?
O referendo era o principal. Primeiro, entrariam os cascos azuis e uma força multinacional de polícia, para preparar o terreno para a realização do referendo. Outro ponto era o transporte, por parte da ONU, dos refugiados para o território saarauí. Três meses após os acordos, iriam realizar o referendo. Ou seja, iria ser em janeiro de 1992.
E por que não foi realizado?
Nesses mesmos dias, o rei Hassan II falou: “espera aí, eu tenho aqui uma lista de saarauís que não estão contemplados no censo espanhol”. Porque a base do padrão eleitoral seria o censo espanhol, que contava 74 mil saarauís. O rei tirou uma lista de 120 mil. Imagina, numa população com 74 mil eleitores, e você põe 120 mil a mais. Eram os saarauís nascidos em Marrocos, que teriam direito a votar também. A Frente Polisario nunca aceitou. Nem a ONU. Ninguém aceitou. Mas, com isso, o rei bloqueou o referendo. Então, tiveram que fazer uma depuração e chegaram à conclusão que só 10 mil tinham direito. Aí, o Marrocos não aceitou. Então, inventaram outra coisa. E assim foi passando o tempo. Por que o Marrocos faz isso? Porque tem o respaldo da França. E a França tem veto no Conselho de Segurança da ONU.
Qual a população do Saara Ocidental hoje?
Aproximadamente 300 mil pessoas. Entre os que estão nos acampamentos, nos territórios ocupados, e os dispersos pelo mundo. Nos acampamentos, são 180 mil. Nos territórios ocupados, uns 90 mil. Só que os marroquinos enfiaram colonos... a mesma política de Israel. Além dos 165 mil soldados, tem todo o aparelho de administração colonial. E além disso, enfiaram 120 mil colonos. Ou seja, hoje a população saarauí é minoria dentro dos territórios ocupados. Então, a impaciência chega, e, por não poderem, por enquanto, optar pela via armada, começaram, em 2005, uma rebelião pacífica, a Intifada Saarauí. Nos acampamentos, estão desejando começar a guerra de novo.
Esse foi um movimento espontâneo ou foi impulsionado pela Frente Polisario?
Foi uma mistura. Começou em maio de 2005. Até hoje, não tem parado em nenhum momento. São quatro anos de rebelião pacífica. Por enquanto, os saarauís não deram nem um tiro. No máximo, são pedras. Mas a repressão é muito grande. Neste momento, tem presos políticos em greve de fome há 30, 40 dias. Reclamando melhores condições na prisão. Mas, desde maio de 2005, desapareceram 15, e morreram quatro ou cinco. E milhares passaram pela prisão e pela tortura. Espancados nas ruas, também milhares. Homens e mulheres. Continuamente. O presidente saarauí está pedindo para a ONU para que esta cuide dos direitos humanos da população que está nos territórios ocupados. O tema foi levado ao Conselho de Segurança este ano, e foi até defendido pelo embaixador norte-americano. Pela primeira vez. Quem ficou sozinha foi a França. Ficou em evidência perante o mundo inteiro que só eles não permitem que a ONU cuide dos direitos humanos da população saarauí. Mas, pela primeira vez, o governo norte-americano assume uma posição diferente da de anteriores governos. Então, estamos numa fase promissora, porque, por um lado, a Intifada continua. Por outro lado, a Anistia Internacional, a Human Rights Watch, o Parlamento Europeu, têm emitido relatórios denunciando a violação permanente dos direitos humanos e pedindo à ONU que tomem conta disso. Por outro lado, o lobby pró-Saara Ocidental tem um peso que antes não tinha sobre o governo norte-americano. Antes, só os marroquinos, sobretudo com o Bush. O que está pedindo o governo saarauí? Uma coisa só: vamos fazer o referendo. Por que eles não fazem? Têm medo, porque a população saarauí quer ser independente. E tem uma coisa interessante. Os protagonistas da Intifada são os jovens saarauís. Mas os jovens que já nasceram nos territórios ocupados. Coisa que o Marrocos não conseguiu ganhar, sequer ideologicamente, foi a juventude. E mais: há filhos de colonos marroquinos que, por terem nascido no Sarra Ocidental, se sentem saarauís. Essa é uma derrota política muito forte para a monarquia. Ela se mantém somente na base da ocupação das Forças Armadas e do aparelho de repressão.
O senhor falou de governo saarauí. Foi o governo instituído pela Frente Polisario, não é?
O governo saarauí por enquanto é de partido único, o partido da Frente Polisario. Mas esse partido tem uma existência condicionada à independência. O dia em que a República for totalmente soberana, que tiver o domínio sobre todo o território, automaticamente a Frente Polisario fica dissolvida e daí nascerão x partidos. É um acordo das forças políticas saarauís de combater todos juntos sob uma só bandeira, a da independência. São por definição, religiosos. Sunitas. Mas bastante liberais. É uma República comum e corrente, tem Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.
Que não são reconhecidos internacionalmente.
Hoje, a República Saarauí é reconhecida por 82 países. Em toda a América Latina, só faltam três países para darem seu reconhecimento: Brasil, Argentina e Chile. O primeiro foi o Panamá, em 1978. Tem embaixada em Havana, Caracas, Cidade do México e Cidade do Panamá.
Como é a população saarauí hoje? Do que ela vive, quais suas características etc?
A população saarauí que está há 33 anos nos acampamentos no sul da Argélia sobrevive graças a duas coisas. A sua determinação de sobreviver, e à solidariedade internacional. Dos organismos humanitários, da União Europeia, toda ajuda do governo argelino, e muita ajuda do povo espanhol. Porque embora o Executivo esteja totalmente a favor do Marrocos, a população espanhola está com os saarauís. No nível municipal, autonômico, estão com os saarauís. Concretamente, o Zapatero [José Luis, presidente da Espanha] e o chanceler Moratinos [Miguel Ángel] têm se inclinado a favor da monarquia marroquina. Têm até dado de presente armamento.
Por quê?
Eu gostaria de saber. Deve ter interesses econômicos muito fortes de empresas espanholas no Marrocos para a exploração de diversos setores, turismo, minérios... interesses da monarquia espanhola... e deve ter alguns interesses pessoais de alguns políticos espanhóis, quem sabe o que.
Como é a economia do Saara Ocidental?
Lá nos acampamentos tem manufaturas artesanais, algumas hortas, uma agricultura muito precária. Imagine, no meio do deserto.
E a população dos territórios ocupados, como vivem?
Sobrevivem, não sei como, porque são discriminados. Eles trabalham nas coisas que foi pondo lá a indústria extratora das jazidas de fosfato, trabalham na pesca, mas sempre são de quinta categoria. Se têm algum problema, são demitidos imediatamente.
No Saara Ocidental, nessa região, existem empresas francesas, espanholas, estadunidenses...
De todos os lugares. Porque, para piorar, há quatro, cinco anos, descobriram que tem petróleo e gás natural. Há uma campanha mundial das organizações progressistas para impedir a exploração dos recursos naturais saarauís. Já obrigaram empresas norueguesas, australianas a se retirarem, sob argumentos éticos. Na realidade, segundo o direito internacional, ninguém pode tirar, porque é um território ocupado. Mas tem empresas espanholas, que exploram a pesca...
Que negociam diretamente com o Marrocos.
Claro. E tem outras nacionalidades, explorando minérios, pesca. E agora, querem morder o petróleo também. Voltando, a Frente Polisario falou: “se nós fizermos o referendo, vamos ganhar. E se ganharmos, os colonos marroquinos podem ficar. Não vão ser nem expulsos, nem discriminados”. E eles cumprem. Os saarauís são muito direitos nesse sentido. Eles têm um sentido de hospitalidade impressionante. Claro, é cultural do deserto. É a garantia de sobrevivência.
Tem alguma coisa que o senhor gostaria de acrescentar?
A importância que hoje teria um reconhecimento por parte do Brasil. O peso internacional é grande. No fim das contas, estamos falando de um governo de esquerda. Um governo de esquerda deve ter determinados princípios que guiem sua atuação internacional. Já são 28 países na América Latina que reconhecem o Saara Ocidental. O Brasil fala que tem uma política de neutralidade, mas não é verdade. Porque quando você tem um forte que agride e uma vítima que é agredida, e você tem relações com o forte, e não tem com a vítima, então isso não é neutralidade. O Brasil tem embaixada marroquina em Brasília. Por que não tem a embaixada saarauí? Um dirigente de esquerda não pode ser neutro. Você tem que estar sempre do lado da vítima da injustiça. Eu acho que um governo de esquerda no Brasil deveria adotar medidas similares. Não estaria fazendo nenhum ato vanguardista. Mas seria muito importante. Porque quanto mais pesar na balança internacional o reconhecimento a favor da República Saarauí, menos probabilidades haverá de estourar novamente uma guerra. Mas se o povo saarauí for condenado a não ter outra saída que não seja a guerra, vai correr sangue de novo.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/uma-luta-invisivel/