17/04/2009

Pela Liberdade do Sahara Ocidental

in matanzero.blogspot.com

"Fomos milhares a sair à rua. Vestimo-nos de branco, com vigílias à luz da vela e cordões humanos de encher cidades e atar com a sua vontade o mundo. Unimo-nos como nunca o fomos e lutámos com o ímpeto que se tinha perdido nos suores dos verões quentes. Havia lá longe um povo massacrado e a humanidade que nos resta pedia-nos que agíssemos. Um povo lá longe e, sim, no mais fundo de nós, escondido bem lá para o fundo, o remorso de sabermos que se agora caminhávamos a nós o devíamos por não termos caminhado antes.

O povo pertencia a um país chamado Timor-Leste a quem a liberdade chamou Lorosae. Saímos à rua e um país nasceu – não por nós, mas porque o país queria nascer. Mas saímos e rezámos e demos as mãos e fomos ao parlamento, a Estrasburgo, a Washington e New York e a verdade é que o país nasceu. Antes tínhamos saído à pressa de um território que durante 500 anos ocupámos, deixando ao abandono e à saciedade indonésia um território com povo lá dentro. Um povo que queria ser um povo de um território enfim deles mas que só por remorso e distância mereceu o nosso compadecimento – mas que mal ou bem conquistou a sua independência. Também porque saímos à rua e rezamos e demos as mãos e fomos a Estrasburgo, Washington, New York, sei lá, fizemos o que tinha que ser feito e não há mais ditos.

Imaginem outro país, mais perto. Alguém tinha fugido de lá e deixado à saciedade de outros um território com povo lá dentro, um povo que queria ser livre. Os outros entraram e não querem sair. Reconhecem a história?

Falo do Sahara Ocidental, onde passei a semana de Páscoa, junto de mais 42 portugueses, naquela que foi a maior delegação nacional a este país ocupado por Marrocos desde 1975, depois de Espanha ter fugido de lá. Eu e os meus companheiros, com as capacidades que temos, vamos tentar fazer com que, mais uma vez, por solidariedade genuína, os portugueses saiam à rua, rezem, dêem as mãos, se dirijam às instâncias necessárias, terrenas ou etéreas, para que, como Timor, também o povo Saharaui possa ser livre, num território que é o seu e que desejam porque é seu.

Vou aproveitar também este espaço para falar sobre a viagem e as experiências que vivi, que vivemos. Para discutir sobre a viagem e também sobre o que há a fazer para que, enfim, se fale mais da realidade do Sahara Ocidental, alterando a situação daquele povo que espera e luta por um país. Como já demonstrámos que somos capazes de fazer…"

Luís Capucha

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