18/04/2009
17/04/2009
Pela Liberdade do Sahara Ocidental
"Fomos milhares a sair à rua. Vestimo-nos de branco, com vigílias à luz da vela e cordões humanos de encher cidades e atar com a sua vontade o mundo. Unimo-nos como nunca o fomos e lutámos com o ímpeto que se tinha perdido nos suores dos verões quentes. Havia lá longe um povo massacrado e a humanidade que nos resta pedia-nos que agíssemos. Um povo lá longe e, sim, no mais fundo de nós, escondido bem lá para o fundo, o remorso de sabermos que se agora caminhávamos a nós o devíamos por não termos caminhado antes.
O povo pertencia a um país chamado Timor-Leste a quem a liberdade chamou Lorosae. Saímos à rua e um país nasceu – não por nós, mas porque o país queria nascer. Mas saímos e rezámos e demos as mãos e fomos ao parlamento, a Estrasburgo, a Washington e New York e a verdade é que o país nasceu. Antes tínhamos saído à pressa de um território que durante 500 anos ocupámos, deixando ao abandono e à saciedade indonésia um território com povo lá dentro. Um povo que queria ser um povo de um território enfim deles mas que só por remorso e distância mereceu o nosso compadecimento – mas que mal ou bem conquistou a sua independência. Também porque saímos à rua e rezamos e demos as mãos e fomos a Estrasburgo, Washington, New York, sei lá, fizemos o que tinha que ser feito e não há mais ditos.
Imaginem outro país, mais perto. Alguém tinha fugido de lá e deixado à saciedade de outros um território com povo lá dentro, um povo que queria ser livre. Os outros entraram e não querem sair. Reconhecem a história?
Falo do Sahara Ocidental, onde passei a semana de Páscoa, junto de mais 42 portugueses, naquela que foi a maior delegação nacional a este país ocupado por Marrocos desde 1975, depois de Espanha ter fugido de lá. Eu e os meus companheiros, com as capacidades que temos, vamos tentar fazer com que, mais uma vez, por solidariedade genuína, os portugueses saiam à rua, rezem, dêem as mãos, se dirijam às instâncias necessárias, terrenas ou etéreas, para que, como Timor, também o povo Saharaui possa ser livre, num território que é o seu e que desejam porque é seu.
Vou aproveitar também este espaço para falar sobre a viagem e as experiências que vivi, que vivemos. Para discutir sobre a viagem e também sobre o que há a fazer para que, enfim, se fale mais da realidade do Sahara Ocidental, alterando a situação daquele povo que espera e luta por um país. Como já demonstrámos que somos capazes de fazer…"
Luís Capucha
Shukran, Dajla
Depois de um pôr do sol falhado (graças aos tomates do Horto e à mudança de melfa da Lamira, para estar no seu melhor na festa preparada na Duna para os portugueses), uns larguíssimos minutos a sentir a areia quentinha e uma paisagem inusitada.
Shukran, Dajla.
Natacha
16/04/2009
Aprovação unânime mereceu a ratificação de apoio financeiro no valor de dois mil euros, a atribuir ao Movimento Democrático das Mulheres (Núcleo de Évora) para reabilitação de uma escola localizada num acampamento de refugiados sahauris em Tinduf (Argélia).
O MDM em parceria com o Conselho Português para a Paz e a Cooperação desenvolve este projecto que permitirá reconstruir uma escola destruída por chuvada devastadora e que deixou cerca de 630 crianças sem um único espaço de educação e lazer.
De futuro serão desenvolvidos programas de geminação com salas de aulas do ensino primário dos municípios parceiros, contribuindo assim para a quebra de isolamento a que estes meninos estão sujeitos. A Câmara de Évora apadrinha uma sala de aulas que se denominará “Sala de Évora”.
Reunião Pública de Câmara - 03/04/2009
15/04/2009
Flying Man
Temos de guardar o «xei» nas «haimas» da nossa alma
Comer uma «francesinha» no deserto seria impossível, disse com os meus botões... enquanto o Luís aprendia árabe, o Victor admirava a Via Láctea entre duas passas de «American Legend», um genuíno cigarro americano totalmente fabricado na Mauritânia, a Susana escavava nas suas mochilas à procura de uma milagrosa pomada e o Baguinho aprendia uma canção saraui.
Comer uma «francesinha» é impossível no deserto insistia eu numa luta incessante com os meus pensamentos diabolizados pela miragem de um «fino» bem tirado. Entretanto, o Baguinho já dançava os primeiros acordes da canção aprendida, Mina e Suelga batiam palmas ao ritmo dos risos das crianças. A nossa haima era como todas as outras, onde todas as almas se encontram numa haima só, portadoras de um visto carimbado com sorriso de felicidade espontânea.
Não, não havia «francesinhas», muito menos «finos» bem tirados! Mas havia um encontro marcado na tenda do Mário onde esperava uma açorda alentejana abençoada por bacalhau. Não era uma miragem ou uma originalidade lusitana, nem tão-pouco uma aberração nacionalista, mas sim uma forma bem nossa e genuína de fazer uma vénia a quem, sem nada, nos recebera como reis num reino efémero de sentimentos nobres e puros.
Entre um sorriso trémulo de simplicidade a Ângela criou uma amostra do nosso universo embebido numa sêmea cozida de paradoxos de calor e frio do deserto. Coentros, alho, bacalhau, que o wali chamara «bacalao», acompanhado de uma excelente colheita de 2009 de Coca-Cola e Fanta de maçã morna. Sem nada ser, foi tudo genuinamente.
Entre cantares distorcidos com letras que a memória insiste em não esquecer, acompanhados de sumos que simulavam «tinto» levantaram uma névoa do cheiro de sons com os quais pretendíamos presentear os passageiros da areia agora forçosamente sedentários no lado oriental do Sara Ocidental. Sabiamente o Rato saltitou com sua secreta arte provocando hilariantes e sinceros risos escoltados pelos «ui-uis» das deusas do «xei».
Não, não havia «francesinhas», nem vimos as costas do Bojador. Mas ficamos almas cativas de um cativeiro efémero onde os diferentes se encontraram em terra áspera e mutuamente compreendemos que não há diferença entre dois sorrisos trémulos, duas palmas batidas, risos rasgados e uma açorda alentejana de sabores que também lembram o Norte.
A festa acabou. Regressamos num falso silêncio à Haima de cada um, que já dizíamos «nossa». Que diferença há entre os povos quando a dor é comum? Perguntaram todos sem que algum fizesse a questão. Nenhuma. Responderam todos em coro para si mesmos. O silêncio nunca é o pior quando regressamos de uma açorda no deserto, ao silencio que deixamos quando regressamos a casa ignorando aqueles que nos consagraram uma parte de eles mesmos.
Crime é deixarmos apenas o odor de uma açorda no deserto sem trazermos o aroma saraui para casa. Temos de guardar o «xei» nas «haimas» da nossa alma.
Abraço a todos e beijos a todas
Rui Neumann